segunda-feira, 15 de abril de 2019

Filhos na modernidade



Hoje, durante meu horário de trabalho, o Diretor Financeiro, um homem que sempre prezou em dizer que era um pai que fazia de tudo para preparar as filhas para o mundo e se recusava a acreditar que “depois de todo o ensinamento que passei a elas”, essas se poderiam se tornar patricinhas dependentes de homem, estava dentro do espaço físico do meu setor batendo papo com as analistas.

Durante esse momento de descontração e assuntos casuais, eis que me deparo a seguinte fala: “Eu achei repugnante aquele vídeo que o presidente botou na internet. Adoro o carnaval e aquilo não é carnaval. Embora que realmente tenha bloquinhos que eu costumava levar minhas filhas e não levo mais porque podem ter homossexuais se beijando.”

Desde então, comecei a pensar sobre meus próprios possíveis futuros filhos, que atualmente só existem no mundo das ideias. Deveria eu “proteger meus filhos” de demonstrações de afeto em público de casais não héteros? Deveria eu esconder de minhas proles que existem demonstrações de afeto entre casais, não importando a orientação sexual do casal? Seria eu um bom pai agindo dessa forma? E entre a mim mesmo e a minha esposa? Seria mais saudável esconder os beijos que der em minha esposa de meus filhos? Amar as escondidas para proteger sua inocência juvenil?

Vou ser sincero e dizer que concordo com o Diretor Financeiro. Devemos sim preparar nossos filhos para o conseguir prosperar no mundo, principalmente em um mundo orientado em tirar tanto deles e dar tão pouco em troca. Contudo, não creio que esconder certas realidades seja a forma mais coerente de preparar crianças. Em um mundo onde as múltiplas formas de ser e se inter relacionar ocupam e abrem espaço quase que “no braço”, na passeata, no berro com opositores no mundo físico e digital, como que uma criança que nunca conviveu com casais não héteros pode sobreviver, quando adulta, em um futuro onde as múltiplas formas de se relacionar ganham cada vez mais espaço? Como que esse futuro adulto vai saber lidar com serenidade e confiança com uma sociedade repleta das novas relações previstas por Baumann?

A rigidez de estereótipos morre a passos largos e o futuro abarca uma sociedade tão abertamente múltipla que casais homossexuais não serão nem de perto o “diferente e inusitado”. Sendo assim, preciso que meus filhos tenham esse contato o quanto antes para que se tornem adultos capazes de se relacionar e entender a sua própria realidade.




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